quarta-feira, 4 de julho de 2007

Artigo

Práticas Criativas Arte e Desporto
Modelo do desporto nas artes plásticas

A inteligência e a psicologia criativas constituem a estrutura base da dicotomia arte e desporto e são o motor da evolução de ambas. Alguns conceitos são subjacentes a estas práticas criativas, existindo um denominador comum nas principais motivações da origem do processo criativo: a estética, a intuição, a memória, a percepção, a imaginação, a inspiração, a inteligência, o pensamento, a simulação, a energia, os códigos, a técnica, a força, o consciente e pulsões inconscientes. O ambiente, o contexto social e político e a relação do artista com a vida, são alguns dos factores motivadores diversificados que poderão ter um papel relevante na produção artística. No aspecto formal, a arte e também o desporto, favorecem a interacção e comunicação entre os seres humanos.

A motivação constituirá um núcleo a que correspondem estádios ou pulsões inconscientes, de onde emergirá a criatividade. A profundidade do afecto está na relação que o artista estabelece com a obra que criou, a qual, muitas vezes, advém da sua realidade interior. Assim, o mundo sensível – imanente ao ser humano - emerge do sentimento. A emoção faz despoletar a força que o artista desenvolve ao transformá-la em motivação criativa. A intuição comporta uma consciência individual e contém um maior significado a nível artístico e criativo. De acordo com a psicologia, o sujeito criativo possuirá uma força de vontade muito persistente e qualidades excepcionais, nomeadamente, a percepção a intuição, a memória, e uma facilidade de associação devido à sua aguda sensibilidade perante os acontecimentos da sua infância e circunstâncias da vida.

O pluralismo estético foi favorecido pela evolução tecnológica e a arte transmite, através de gerações, todo o significado das mensagens a que aspira a liberdade humana.
Desde a antiguidade, a cultura e a prática do desporto foram celebrizados pelos gregos e a criação dos “jogos olímpicos”, teria como fim a interacção física e emocional do indivíduo, na superação de obstáculos e, também o objectivo de atingir uma meta, rumo ao reconhecimento e relação com o “outro”.

O desporto, constitui a expressão universal estimulante da actividade física e emocional. Etimologicamente, o vocábulo criatividade, remete-nos ao inexistente de onde se tira algo, à invenção, ao estabelecimento de relações que conduzirão à inovação. A criação, é um pressuposto religioso, em que a divindade está inscrita no processo criativo. O filósofo francês Jean-François Lyotard entende-o como uma teologia, uma proximidade ao divino e ao imortal. Por outro lado, Goethe, afirmou que, na diversidade de vertentes formais da arte em que inclui a poética, representam a “superação da própria vida”. A arte como vocação, subentenderá um dom ou talento naturais, que ao serem cultivados e aperfeiçoados, expressarão a actividade artística que pela dedicação e a “vontade de poder” de Nietzsche, se integram no processo criativo.
A arte encerra na essência, uma cosmologia filosófica e antropológica. Os artistas inferem nas suas obras uma análise sobre o mundo que os rodeia e, também, a sua própria natureza, ao tentarem compreender a evolução e o pensamento humanos.

Como artista plástica e desportista, concordo efectivamente que existe um modelo de comunicação idêntico, a relação entre os estímulos, os pensamentos – as nossas representações internas, as emoções e a nossa resposta em termos de comportamento. Arte e desporto, com sistemas de representação diferentes que comportam as formas sensoriais de como representamos o mundo. E a estrutura do pensamento dá significado à experiência e é responsável pela sensação. Também posso comparar a prática de pintar, à prática do surf ou do golfe, no sentido em que, embora possa existir um domínio da técnica, será impossível pintar duas telas iguais, surfar duas ondas com as mesmas manobras ou efectuar duas tacadas da mesma maneira.

É curioso que ao praticar surf ou golfe, a razão porque o corpo não obedece durante o desempenho físico (desafio), e não corresponde à técnica manifestada no treino, tem mais a ver com os pensamentos e emoções do que com a técnica da tacada ou manobra, do swing ou da postura.

Para construir uma rotina de preparação excelente é conveniente conhecer a mecânica mental e assim empregar a estrutura do pensamento para alcançar o máximo de desempenho, deve tornar-se um reflexo condicionado, independentemente se a tacada ou a onda anterior saiu bem ou mal. A repetição – aperfeiçoamento da técnica empregue - leva à concentração, confiança e decisão. Na prática de pintar é igual, as minhas convicções, motivação e história emocional, são as determinantes no controlo da mente, e reflectem-se nas minhas obras.
Existe um paralelismo a nível de conceitos, que unem estas duas práticas criativas, a arte e o desporto, prevalecendo a memória e a percepção, e o “outro”, pois ambas necessitam do público para serem reconhecidas.

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